domingo, 4 de agosto de 2013

Trabalho "O Santo e a Porca"

Ariano Suassuna               * 16 de Junho de 1927

RESUMO

A peça conta a história de um velho avarento conhecido como Euricão Árabe. O protagonista é devoto de Santo Antônio e guarda as economias de toda a vida numa porca de madeira. Ao receber uma carta de Eudoro dizendo que este iria lhe privar de seu mais precioso tesouro, Euricão fica apreensivo achando que Eudoro irá pedir o dinheiro da porca. Caroba, a empregada da casa, entende a situação: o tesouro à que ele se refere é Margarida, filha de Euricão. O fazendeiro deseja casar-se com ela. 
Margarida namorava escondido Dodó, filho de Eudoro, Caroba aproveita a situação para arranjar um dinheiro e casar-se com Pinhão, seu noivo. A empregada planeja casar Margarida com Dodó, e Benona, irmã de Euricão, com Eudoro, pois os dois haviam sido noivos no passado. Primeiro ela inventa que Eudoro irá pedir a mão de Benona em casamento, depois se aproveita do medo de Euricão de perder seu dinheiro e combina com ele uma comissão para ajudá-lo a tirar 20 contos de Eudoro. 
Caroba esconde as meninas no quarto, tranca Dodó com Margarida e se disfarça para receber Eudoro como se fosse Margarida. Depois se disfarça de Benona, faz com que Eudoro se apaixone novamente pela antiga noiva e o tranca no quarto com ela.  
Eurico resolve enterrar a porca no cemitério, mas quando levanta de madrugada para pegá-la não a encontra, Pinhão já havia levado a porca para o quarto de Caroba. Ao passar pelo quarto de Margarida, vê a filha saindo de lá com Dodó. Como Dodó tenta se explicar achando que Euricão está bravo por estarem juntos no quarto, ele começa a desconfiar de que o moço roubou sua porca e começam a brigar. 
Ao ouvirem a discussão, todos saem dos quartos. Pinhão pede dinheiro a Euricão para dizer onde está a porca. Quando a recupera, percebe que o dinheiro guardado não vale mais. Os casais se acertam e Euricão termina sozinho com a porca e sem o dinheiro, perguntando a Santo Antônio o que aconteceu.

CONTEXTO

Sobre o autor
Ariano Suassuna é dramaturgo, romancista e poeta. Defensor da cultura popular de nosso país, especialmente da cultura Nordestina. Sua obra mais conhecida é “Auto da Compadecida”. O autor ocupa a cadeira número 32 na Academia Brasileira de Letras, a cadeira tem como patrono Araújo Porto Alegre.
Importância do livro
A peça O Santo e a Porca representa a manifestação da cultura nordestina. É uma peça teatral dividida em três atos: apresentação dos personagens, desenvolvimento e ápice. O tema gira em torno da avareza, pois o impasse se dá quando o protagonista pensa que irá perder todo o dinheiro que guardava numa porca de madeira. Apesar de ser uma comédia, o texto promove uma reflexão sobre a relação do ser humano com o mundo físico (representado pela porca) e o espiritual (representado por Santo Antônio). 
Período Histórico 
Lançada em 1957, a peça O Santo e a Porca foi inspirada em “Aulularia”, do autor romano Plauto. Ambientada, porém, no Nordeste, acabou ficando bem diferente do original, escrito entre 194 e 191 a.C. 

ANÁLISE

O Santo e a Porca é uma peça que, aparentemente, trata de um tema simples que é a avareza, em tom de humor por ser uma comédia. Porém, através da singela história, podemos atentar para desdobramentos mais complexos, como a relação do homem com o divino e com o mundo material.  
O mundo material é simbolizado pela porca de madeira. Neste sentido, a avareza é o sentimento que representa o apego do personagem Euricão aos bens materiais. A importância que dá à porca é tanta que, ao receber uma carta dizendo que seria tirado seu mais valioso bem, ele pensa na porca e não em sua filha.  
Apesar da avareza, Euricão é ligado ao mundo espiritual por ser devoto de Santo Antônio. Na peça, o santo, além de casamenteiro, teria a função de proteger a fortuna do personagem. Ao ver que sua porca corre risco, ele chega a desacreditar no santo. O personagem está sempre entre o divino e o material, o que remete aos conflitos barrocos, em que o homem estava sempre dividido entre o mundo espiritual e o material.
A peça também contribui pra a reflexão e divulgação da cultura nordestina. Os personagens representam diferentes classes sociais e existe uma critica a vida difícil no Nordeste. A personagem da empregada Caroba simboliza a classe social mais baixa da população, que por não ter outras oportunidades, acaba tramando para se dar bem. Além disso, apresenta linguagem simples e direta, chama a atenção do leitor por apresentar uma sequência de acontecimentos, o que mantém o interesse até o fim do texto. 
O desejo descontrolado pela porca faz o personagem Euricão ter um triste fim, termina sem o dinheiro e sozinho.  Já os outros personagens formam casais e terminam felizes. Apesar da avareza, ao perceber que o dinheiro que guardou a vida toda não vale mais nada, Euricão reflete e se pergunta em que estava errando: “Um golpe do acaso abriu meus olhos (...). Que quer dizer isso, Santo Antônio? Será que só você tem a resposta?”. A peça termina com a possibilidade do personagem aprender com tudo o que lhe aconteceu.

                                                                        Atividade 
QUESTÃO 1
Relacione características e personagens de “O Santo e a Porca”, de Ariano Suassuna.
a) Eudoro                            (  ) "Engole Cobra", Eurico Árabe; é o protagonista da peça; é pai de Margarida e irmão de Benona; personagem avarento.

b) Benona                           (   )  filha de Euricão (a filha é o patrimônio do pai, é noiva de Dodó; personagem que desencadeia dois pólos de interesse: material (Euricão) e sentimental (Eudoro e Dodó).
c) Maragarida                    (  ) é irmã de Euricão, ex-noiva de Eudoro; representa os pudores e os recatos.

d) Dodó                              (  ) Empregada de Euricão; é a personagem que desenvolve toda a rede de intrigas que envolve os casamentos.

e) Pinhão                           (  ) Empregado de Eudoro; é noivo de Caroba.
f) Euricão                          (  ) Pai de Dodó; é ex-noivo de Benona e pretendente de Margarida.

g) Caroba                          (  ) Redução do nome Eudoro ; é o filho de  Eudoro; noivo de Margarida
A ordem das afirmativas é:
a)     A,B,C,D,E,F,G     b) C,F,G,B,E,D,A    c) F,C,B,G,E,A,D         d) B,C,F,D,C,A,E

QUESTÂO 2
No início de "O santo e a porca", de Ariano Suassuna, o protagonista Euricão recebe uma correspondência de Eudoro Vicente. Considere as seguintes palavras da carta: "Mando na frente meu criado Pinhão, homem de toda confiança, para avisá-lo de minha chegada aí, mas quero logo avisá-lo: pretendo privá-lo de seu mais precioso tesouro!".

Assinale a alternativa que interpreta corretamente os desdobramentos desse episódio.
a) Apresentado como homem de toda confiança, Pinhão decepcionou seu patrão ao envolver-se com Margarida, a filha de Euricão.
b) A presença das personagens Pinhão e Caroba é estratégica para multiplicar as situações cômicas, mas não é decisiva para a solução dos eventos representados.
c) A perda do tesouro guardado na porca denuncia as carências do sertão nordestino, pois o velho avarento não teria como recorrer aos serviços de algum banco ou instituição financeira.
d) Euricão atribuiu sentido literal à expressão "seu mais precioso tesouro", empregada por Eudoro Vicente em sentido metafórico.

.O texto abaixo, um fragmento da peça O santo e a porca, de Ariano Suassuna, encenada primeiramente em 1957, serve de referência para a questão  3:
Entra EUDORO VICENTE. BENONA lança-lhe um olhar provocante e terno.
BENONA — Eudoro, meu irmão vem já. Com licença, malvado! (Sai.)
EUDORO — Que foi que houve aqui, meu Deus, para Benona me olhar assim. Que coisa esquisita!
CAROBA — Ah, e o senhor ainda não soube de nada não?
EUDORO — Não, o que foi que houve?
CAROBA — O que houve, Seu Eudoro, foi que o povo daqui está desconfiado de que o senhor veio noivar.
EUDORO — E por que estão pensando nisso?
CAROBA — O senhor mandou dizer na carta que ia roubar o tesouro de Seu Euricão e todo mundo está pensando que isso quer dizer "casar com Dona Margarida".
EUDORO — Pois estão pensando certo, Caroba. Desde que Dodó saiu de casa para estudar, estou me sentindo muito só. Simpatizei com a filha de Euricão e resolvi pedi-la, apesar da diferença de idade.
SUASSUNA, Ariano. O santo e a porca. 22. ed. São Paulo: José Olympio, 2010. p. 33
QUESTÃO 3
Sobre Caroba e Dona Margarida, personagens femininas de O santo e a porca, pode-se afirmar que
A) demonstram comportamento ativo, utilizando-se da esperteza como instrumento para a materialização de seus desejos.
B) manifestam timidez, especialmente quando se encontram diante da presença masculina.
C) representam toda a comunidade, valendo-se da sabedoria popular para denunciar as injustiças masculinas.
D) utilizam o olhar para expressar, sobretudo, o que não podem falar, revelando passividade.
QUESTÃO 4
Leia abaixo o trecho de O santo e a porca, de Ariano Suassuna.

EURICÃO — Ai, gritaram ―Pega o ladrão!‖. Quem foi? Onde está? Pega, pega! Santo Antônio, Santo Antônio, que diabo de proteção é essa? Ouvi gritar ―Pega o ladrão!‖. Ai, a porca, ai meu sangue, ai minha vida, ai minha porquinha do coração! Levaram, roubaram! Ai, não, está lá, graças a Deus! Que terá havido, minha Nossa Senhora? Terão desconfiado porque tirei a porca do lugar? Deve ter sido isso, desconfiaram e começaram a rondar para furtá-la! É melhor deixá-la aqui mesmo, à vista de todos, assim ninguém lhe dará importância! Ou não? Que é que eu faço, Santo Antônio? Deixo a porca lá, ou trago-a para aqui, sob sua proteção?
SUASSUNA, Ariano. O santo e a porca. 22. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010. p. 97.
Nessa passagem, a recorrência da interrogação é um recurso literário revelador da
A) desconfiança da personagem em relação a Santo Antônio e a Nossa Senhora.
B) perplexidade da personagem resultante da perda da proteção divina.
C) angústia da personagem perante uma situação tragicômica.
D) ironia da personagem mediante uma situação cômica.
QUESTÃO 5
Na peça cômica O santo e a porca, Ariano Suassuna produziu uma sagaz sátira sobre a mistura do sagrado e do profano na cultura do sertanejo. Sobre Ariano Suassuna e sua visão acerca da história do Brasil, é CORRETO afirmar:
a) A “porca” é, na verdade, um cofre cheio de dinheiro, representando um dos sete pecados capitais: a preguiça.
b) O dinheiro escondido por Euricão Engole-Cobra não valia nada, pois como diz a peça “está todo recolhido”, o que evidencia as diversas mudanças de moeda pelas quais passou o Brasil.
c) O “santo” do título é uma referência ao beato Antonio Conselheiro, líder do Arraial de Canudos.
d) A mistura entre sagrado e profano é visível no momento em que o protagonista da peça, Caroba, esconde  dinheiro dentro de um santo de pau-oco, como faziam os traficantes de ouro durante o auge da mineração.

QUESTÃO 6

 Sobre a obra O Santo e a Porca, marque para verdadeira e F para falsa.
( ) Um dos personagens, conhecido como“Euricão Engole-Cobra”, é um turco avarento que é dono de muitas terras e pretende se casar com Margarida.
( ) É uma comédia em três atos, cujo enredo se desenvolve por meio de uma série de equívocos orquestrada por um dos sete personagens.
( ) A peça, que explora a cultura e os valores nordestinos do Brasil, trata da relação do mundo material com o espiritual, ou seja, mistura o religioso e o profano.
( ) O texto divide-se em três partes: A terra, O homem e A luta.
( ) Euricão sacrificou toda a sua vida à porca, que representava a segurança, a vida tranqüila, feliz e rotineira.
A seqüência correta, de cima para baixo, é:
A V - V - F - F - V
B F - F - V -V -  F
C F - V - V - F - V
D V - F - V - F - F

QUESTÃO 7

“Ladrões, ladrões! Será que me roubaram? É preciso ver, é preciso vigiar! Vivem de olho no meu dinheiro, Santo Antônio! Dinheiro conseguido duramente, dinheiro que juntei com os maiores sacrifícios...!” Esta é uma passagem de O Santo e a Porca, uma obra de Ariano Suassuna, publicada em 1957

. Com base na leitura de O Santo e a Porca, assinale os itens a seguir como verdadeiros (V) ou falsos (F).
(   ). Trata-se de um romance que relata o dia-a-dia de uma família simples do Nordeste brasileiro.
(    ). O referido texto é de caráter cômico e está centrado na questão da avareza apresentada por um de seus personagens, o Euricão.
(    ). Através dessa peça de teatro, Ariano Suassuna apresenta questões pertinentes à sociedade e à dramaturgia brasileira ao colocar em cena um personagem que, apesar de avaro, valoriza sua família colocando-a acima de qualquer valor material.
(    ). Todo sentido da vida de Euricão está centrado na porca de madeira e ele é ameaçado de perdê-la através de um acontecimento inesperado: o casamento de sua filha Caroba.
A sequência correta é:
a)       V,V,V,V          b)V,F,F,F               c)F,V,F,F          d)V,F,V,V


QUESTÃO 8
PINHÃO – O lírio, ô lírio, ô lírio
ô lírio como é?
Bom almoço, boa janta,
boa ceia e bom café,
da roseira eu quero o galho,
do craveiro eu quero o pé.
Agora, é assim, Santo Antônio, meu velho, “bom almoço, boa janta, boa ceia e bom café”. Mas ali onde diz“da roseira eu quero o galho, do craveiro eu quero o pé”, agora é assim: “da porquinha eu quero as tripas,quero pá, cabeça e pé”. Sou o homem mais rico, do mundo, Santo Antônio, trate de me agradar de hoje em diante. Não há mais como um dia atrás do outro e uma noite no meio. O velho Engole-Cobra, de tanto engolir cobra, terminou achando uma que o engolisse. Ra, Ra! Plantou o roçadinho dele, mas quem
arrancou o milho foi Pinhão. (SUASSUNA, 2009, p. 121)
          Faça uma leitura do texto acima, estabelecendo uma relação com todo o enredo da peça O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna, e assinale a alternativa que está INCORRETA.
A) O personagem Euricão Engole-Cobra, após ter passado pela experiência da perda de seu tesouro, torna-se um homem menos ganancioso, dividindo o seu dinheiro com todos.
B) O personagem Pinhão, com alegria, canta a sua esperteza de ter conseguido roubar a porca de seu patrão.
C) O texto apresenta, através da voz do personagem Pinhão, um diálogo com as composições populares e o texto bíblico.
D) A fala de Pinhão a Santo Antônio reproduz ironicamente as distorções existentes entre os empregados e o patrão na sociedade.
QUESTÃO 9
Descrever o caráter dos personagens que aparecem em cena: Euricão, Eudoro e Caroba.
QUESTÃO 10
Ariano Suassuna é autor de uma obra numerosa, com reconhecimento nacional. Atendo-se exclusivamente ao texto O Santo e a Porca, analise as afirmações abaixo e marque V para verdadeira e F para falsa.
(   ) O Santo e a Porca é uma peça teatral, pertencente ao gênero dramático. .
(   ) O tema central do texto de Suassuna é a avareza, assunto que gerou, ao longo de nossa história ocidental, muitas obras, sobretudo as de caráter cômico ou moral.
(    ) Um efeito cômico relevante da obra de Ariano Suassuna é derivado do engano que consiste em se tomar uma coisa por outra, como nas cenas em que as personagens interpretam equivocadamente uma determinada situação.
(   ) O Santo e a Porca deixa aos leitores e espectadores a seguinte moral: quem se preocupa com dinheiro e não dá atenção aos santos sempre termina a vida rico, mas sem poder usufruir da companhia dos outros.

(   ) Ao final da peça, todas as personagens conseguem ser felizes com seus pares, exceto o protagonista, Euricão, que termina a história sozinho, com a porca e a imagem de Santo Antônio, tentando compreender o sentido da existência.
A sequência correta é:
a)V,F,F,V,V,V                       b)V,V,F,F,F                           c)V,V,V,F,V                           d)F,V,F,V,F

domingo, 31 de março de 2013

Comunicação e Socialização

Lembre-se o leitor como se fez gente: sua casa, seu bairro, sua escola, sua patota.A comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura foram - lhe transmitidos, pelo qual aprendeu a ser "membro" de sua sociedade – de sua família, de seu grupo de amigos, de sua vizinhança, de sua nação. Foi assim que adotou a sua "cultura", isto é, os modos de pensamento e ação, suas crenças, valores, seus hábitos e tabus. Isso não ocorreu por instrução, pelo menos antes de ir para a escola: ninguém lhe ensinou propositadamente como está organizada a sociedade e o que pensa e sente a sua cultura. Isso aconteceu indiretamente, pela experiência acumulada de numerosos pequenos eventos, insignificantes em si mesmos, através dos quais travou relações com diversas pessoas e aprendeu naturalmente a orientar seu comportamento para o que "convinha". Tudo isso foi possível graças à comunicação. Não foram os professores na escola que lhe ensinaram sua cultura: foi a comunicação diária com pais , irmãos , amigos, na casa, na rua, nas lojas, no ônibus, no jogo, no botequim, na igreja ,que lhe transmitiu, menino, as qualidades essenciais da sociedade e a natureza do ser social.
Contrariamente, então, ao que alguns pensam, Comunicação é muito mais que os meios de comunicação social. Esses meios são tão poderosos e importantes na nossa vida atual, que às vezes esquecemos que representam apenas uma mínima parte de nossa comunicação. Alguém fez, uma vez, uma lista dos atos de comunicação que um homem qualquer realiza desde que se levanta pela manhã até a hora de deitar-se, no fim do dia. A quantidade de atos de comunicação é simplesmente inacreditável, desde o "bom-dia" à sua mulher, acompanhado ou não por um beijo,passando pela leitura do jornal, a decodificação de número e cores do ônibus que o leva ao trabalho, o pagamento ao cobrador, a conversa com o companheiro de banco, os cumprimentos aos colegas no escritório, o trabalho com documentos,recibos, relatórios, as reuniões e entrevistas, a visita ao banco e as conversas com seu chefe, os inúmeros telefonemas, o papo durante o almoço, a escolha do prato no menu, a conversa com os filhos no jantar, o programinha de televisão, o diálogo amoroso com sua mulher antes de dormir, e o ato final de comunicação num dia cheio dela: "boa-noite".

A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida. Temos tanta consciência de que comunicamos como de que respiramos ou andamos. Somente percebemos a sua essencial importância quando, por um acidente ou uma doença, perdemos a capacidade de nos comunicar. Pessoas que foram impedidas de se comunicar durante longos períodos enlouqueceram ou ficaram perto da loucura.A comunicação é uma necessidade básica da pessoa humana, do homem social.
DÍAZ RORDENAVE, Juan E. O que é comunicação.São Paulo, Nova Cultural/Brasiliense, 1986. p. 17-9

Língua e Sociedade (Dino Peti)



O caráter social de uma língua parece ter sido fartamente demonstrado. Entendida como um sistema de signos convencionais que faculta aos membros de uma comunidade a possibilidade de comunicação, acredita-se, hoje, que seu papel seja cada vez mais importante nas relações humanas, razão pela qual seu estudo já envolve modernos processos científicos de pesquisa, interligados às mais novas ciências e técnicas, como, por exemplo, a própria Cibernética.
Entre sociedade e língua, de fato, não há uma relação de mera casualidade. Desde que nascemos, um mundo de signos linguísticos nos cerca e suas inúmeras possibilidades comunicativas começam a tornar-se reais a partir do momento em que, pela imitação e associação, começamos a formular nossas mensagens. E toda a nossa vida em sociedade supõe um problema de intercâmbio e comunicação que se realiza fundamentalmente pela língua, o meio mais comum de que dispomos para tal.
Sons, gestos, imagens, diversos e imprevistos, cercam a vida do homem moderno, compondo mensagens de toda ordem (Henri Lefèbvre diria poeticamente que “niágaras de mensagens caem sobre pessoas mais ou menos interessadas e contagiadas”), transmitidas pelos mais diferentes canais, como a televisão, o cinema, a imprensa, o rádio, o telefone, o telégrafo, os cartazes de propaganda, os desenhos, a música e tantos outros. Em todos, a língua desempenha um papel preponderante, seja em sua forma oral, seja através de seu código substitutivo escrito. E, através dela, o contato com o mundo que nos cerca é permanentemente atualizado.
Nas grandes civilizações, a língua é o suporte de uma dinâmica social, que compreende, não só as relações diárias entre os membros da comunidade, como também uma atividade intelectual, que vai desde o fluxo informativo dos meios de comunicação de massa, a te a vida cultural, científica ou literária.